quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Sons Adjetos

SONS ADJETOS

O sorteio para a segunda performance foi extremamente oportuno para mim. Eu sorteei o Alexandre Dacosta, marido da Lucila, que no mesmo dia do sorteio, sem saber que eu o havia sorteado, me entregou um panfleto de uma exposição dele, Adjetos e Aparatos Femininos, que se encontra no Palácio do Catete e que está associada a um livro e um CD musical.

Antes de entrar em contato com o Alexandre, resolvi visitar a exposição para ver como poderíamos dialogar nossos interesses artísticos. Aproveitei a visita para produzir algum material acerca do conceito que desenvolverei. Gravei durante um tempo a paisagem sonora do interior da sala de exposição, e também do jardim do Palácio do Catete.

No primeiro contato com Alexandre falei pra ele da minha visita à sua exposição e do conceito que desenvolveria durante a materia. A partir disso ele contribuiu com várias ideias e disponibilizou músicas que são integradas à exposição para que eu escutasse. Propus que nós focassemos na qualidade feminina dos Adjetos. Cogitamos então gravar a paisagem sonora de alguns ambientes femininos, como um salão de beleza, ou mesmo um banheiro feminino e, com os sons coletados desse ambiente e da exposição fazer uma colagem, mesclando também imagens dos adjetos. Outra alternativa seria compor uma música ou sons, e produzir uma intervenção nesses ambientes femininos.

Por indisponibilidade de tempo, acabamos nos encontrando apenas na segunda-feira (17/10). Como era feriado, não foi possível fazer as gravações e/ou intervenções que pretendíamos. Mas nesse encontro pude coletar com Alexandre mais materiais do seu trabalho, o que me permitiu editar um vídeo, mesclando som e imagens.

Ao contrário da primeira experiência, onde Diego e eu experimentamos produzir um interferência em um ambiente sonoro determinado, dessa vez, pelo menos até o momento deste relatório, o experimento se ateve à analise de uma paisagem sonora e à observação das relações que ela produz por si própria. A exposição no Palácio do Catete recebe visitas espaçadas e diversificadas.

Eu alternei momentos de registro dentro e fora do ambiente da exposição. Na minha primeira entrada, a sala estava vazia. Logo após a minha entrada, a monitora, que estava no jardim, entrou também. Fiquei um tempo apenas observando e quando me praparava para sair, entrou um casal de meia idade. A mulher apenas observava e o homem tecia comentários, principalmente críticos, a respeito das obras. Logo no início ele já criticou a exposição dizendo “encaixa um monte de coisa e diz que é arte”. Depois ele teceu alguns comentários sobre o efeito desfocado de algumas fotos que compunham a exposição, mas logo voltou à sua primeira constatação. A monitora permaneceu o tempo todo em silêncio, antes de sair, perguntei a ela se era permitido fotografar, ao que ela respondeu que sim com a cabeça, mantendo seu silêncio.

Após esse primeiro registro, fiz algumas gravações da área externa. Foi interessante constatar como alguns sons do jardim também dialogavam perfeitamente com os Adjetos da exposição. Em uma das gravações uma senhora diz: “É nas bolinha, BOLINHAS”; após um silêncio que não permite que se saiba qual é o contexto da enunciação. No momento da gravação no me atentei sobre o que se tratava, só me chamou realmente a atenção quando ouvi o som em casa, deslocado da imagem, mas não pude me lembrar do contexto. Assim como os adjetos/inutensílios de Alexandre, esse som perdeu seu contexto inicial, mas encaixou-se perfeitamente com uma das obras da exposição.

Outro momento interessante da gravação na área externa foi quando, ao ir em direção ao banheiro, fui advertido por uma funcionária que era um serviço pago, com um tímido e quase inaudível: “É um real...”. Essa enunciação também acha um correspondente na exposição em uma obra que aborda a temática de preço em uma tabela de valores de depilação. Além desses dois momentos ficaram gravados também alguns sons corriqueiros: funcionários dialogando em tom de brincadeira, aves, um carro de som passando na rua.

Voltei para mais uma gravação no interior da sala de exposição. Dessa vez um grupo de crianças visitava a obra. Após a saída das crianças percebi que a monitora da exposição conversava com uma amiga. Me aproximei delas fingindo que fotografava as obras que estavam próximas, mas o volume da conversa já tinha sido reduzido a um nível que não se aproveitava para gravação.

O trabalho sobre o vídeo, que produz um novo diálogo entre esses ambientes sonoro e visual, estimula a vontade de uma continuação sobre o tema. Acredito que esse trabalho possa ter ainda outros desdobramentos.

Continuação:

Inutensílios –> Releitura de objetos -> Releitura de sons – Sons deslocados de seus lugares e de sua função essencial


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