segunda-feira, 21 de novembro de 2011

DANIEL?



A partir da impossibilidade de me encontrar com o Daniel, sugestão da Claudia, optei por dar continuidade ao procedimento performático estabelecido com a Laura (primeiro trabalho para a disciplina). Portanto, com a mesma plaquinha ( com o nome e uma interrogação, assim: DANIEL?) e, praticamente, as mesmas "regras" do jogo, parti em busca de presentificar mais uma ausência. O ponto escolhido foi o mesmo: praia de Copacabana entre o Posto 5 e o Posto 6. A principal diferença entre o primeiro procedimento e este é que para além da placa com o nome eu não estava portanto a flor. Para além das conclusões e pensamentos    já relatados da primeira experiência, me detenho agora as semelhanças e diferenças. Foi maravilhoso perceber, mais uma vez, como a presença de um simples dispositivo gera estranheza e inquietude naqueles que passam e observam o ato performático. A mudança de posição é sutil, porém rápida. Ou seja: depois de sentado e com a plaquinha nas mãos e apoiada nas pernas, passo instantaneamente a ocupar outro lugar de relação com a cidade - deixo de ser um cidadão comum, em uma tarde de domingo, para ser um agente transformador do espaço que ocupo. Não sou mais um detalhe, sou o detalhe que aprisiona a visão de quem por mim passa. DANIEL? EU SOU O DANIEL! Disse o homem que passava com a namorada menos de dois minutos depois que eu havia sentado. MÃE, É O MEU NOME! Disse o garotinho, com o sorvete na mão, cutucando a barriga da mãe ocupada com o celular. POSSO TIRAR UMA FOTO? Perguntou a menina com um sotaque carregado do sul. Pode, eu respondi. Diferente do procedimento com LAURA?, DANIEL? não assumiu um caráter romântico ou depressivo... Na verdade, até agora não sei, de fato, se coube ao trabalho algum tipo de roupagem. Penso que a "perda" da dimensão romântica do encontro-ausente tenha se dado pela ausência da flor e toda a produção de sentido que ela carrega em nossa cultural ocidental. Outro palpite, que só pude formular comparando as fotos, diz respeito as roupas que vestia nos dois atos. Em LAURA? eu estava de preto... Já em DANIEL? usava uma blusa bastante colorida. Nas duas eu estava de óculos escuros para evitar o contato muito direto com os passantes e, de alguma forma, induzir a reação deles ao trabalho. A escolha das roupas não foi proposital. O trabalho tem como característica lidar também com o dia a dia, com a exposição do performer e suas escolhas. Para os dois trabalhos, me vesti de acordo com o meu sentimento e compromissos do dia. Maravilhoso acaso! DANIEL? foi então uma intervenção feliz, uma pergunta ao infinito, a propagação de um afeto quase como piada boa ou ironia fina. DANIEL? foi uma pedra no meio do caminho, um cd arranhado, a hora perdida e o passeio que furou. Foi balão voando, riso solto... HÁ QUANTO TEMPO VOCÊ ESTÁ AQUI? Me perguntou um grupo de meninas que passavam e riam. Como no primeiro procedimento, permaneci na praia pouco mais do que uma hora. Trabalhar com a mesma quantidade de tempo foi fundamental para a diferenciação das experiências. Em LAURA? eu pensava em Laura, nas pessoas que passavam, no amor, nas críticas que recebi, na possibilidade de propagar um afeto, na dimensão do performar, na exposição do artista enquanto objeto, na produção de presença, na minha respiração, nas minhas mãos tensas e nas minhas pernas que trocaram muitas vezes de posição... Em DANIEL? eu não pensava em nada, ria muito, falava com as pessoas, quase como uma atração, um pedido de carinho, um pequeno e solitário número de palhaço. A repetição do ato me proporcionou mais conforto e, é claro, que isso também pode ter contribuído para a leveza atingida neste procedimento. Em oposição a LAURA? o assunto homossexualidade não foi tocado e nem sequer sugerido. O que podemos considerar demasiado curioso. Se a relação homoafetiva se dá entre duas pessoas do mesmo sexo, DANIEL? , poderia ter mais chances de despertar no imaginário dos passantes alguma situação relacionada a este tema ou discussão. Contrariando a logicidade, isso não ocorreu. Bom, são esses os pontos que julguei mais interessante relatar sobre a repetição de uma mesma proposta com pequenas modificações. Se alguém quiser fazer alguma pergunta ou quiser saber mais de algum detalhe, deixe um comentário aqui que eu tento responder. É isso.

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