quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Troca de Felicidade - 1a. Performance.


Essa atividade foi idealizada e realizada conjuntamente por mim - Ana Borges - e a Débora Salem. O ponto de partida foi um "brainstorm", mais nutrido pela Débora que por mim, uma vez que em se tratando da minha primeira experiência nesse campo, tudo era novo, diferente e as idéias em relação ao que fazer, como fazer, e de onde partir, me eram, até então, bem abstratas e frágeis. Apostei na consolidada experiência da Débora, listamos alguns temas e ela trouxe uma reflexão sobre a felicidade, a busca das pessoas pela felicidade (muitas vezes de maneira equivocada e sem sentido) e as "pílulas de felicidade" - termo usado pela Débora - criadas pelo mercado, pelas áreas de marketing, disponíveis em abundância no comércio para resolver os problemas e transformar qualquer pessoa em um ser feliz. Está triste? Tome pílula A. Está angustiado? Pílula B. Pele ressecou? Pílula C. O namorado ou marido a traiu? Pílulas D e E e em três dias tudo estará resolvido. Fora do peso? Pílula F. E por aí vai. Qualquer problema pode ser facilmente resolvido, por algum remédio, disponível no mercado para esse fim, e rapidamente, no melhor estilo tabajara, os seus problemas acabaram!

A partir dessa provocação, começamos a discutir a questão da felicidade e surgiu uma curiosidade sobre o que seria felicidade para as pessoas. O que elas entendem por isso e quais os momentos que elas identificam, em suas vidas, como momentos felizes. Foi então que surgiu a idéia de buscar essas informações na rua, pedindo a pessoas que nos contassem histórias de felicidade. Desse ponto surgiu então a pergunta: tudo bem, mas o que elas ganham com isso? E foi nesse ponto que veio a idéia de oferecer a elas alguma coisa (mais tarde definimos que seria um pedaço de bolo de chocolate) em troca da história que elas nos contariam.

A ação foi implementada numa manhã de domingo, na Praça San Salvador, em Laranjeiras. Foram abordadas dez pessoas com perfis os mais variados: homens, mulheres, jovens, idosos, loiros, morenos, de diferentes classes sociais. As histórias relatadas pelos entrevistados - e vinculadas por eles à felicidade ou à interpretação que fazem dela - variaram desde a chegada de um filho ou neto, passando pelo sucesso da filha no vestibular, uma carona inesperada em um momento adverso e pelas lembranças da vida em família citadas por um morador de rua.

A atividade foi registrada em vídeo: ora eu conduzia a entrevista e a Débora gravava, ora invertíamos os papéis.

Anexo tentarei colocar a imagem da folha com a receita do bolo e o link para algumas das entrevistas. Vamos ver se consigo! Estou me sentido feliz por ter chegado até esse ponto do blog.

http://youtu.be/1Td6LArwp34

http://youtu.be/sRk8hcGb3mI

http://youtu.be/KYZtMiInChI

http://youtu.be/XJzdCJEJTOc


quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Deleite Gastronômico - Um jantar de sentidos ampliados - 3a. Performance.

Essa performance está planejada, desenhada e acordada mas, em função de agenda de saúde de uma das partes, sua implementação está em stand by. Há a possibilidade de ser realizada ainda em dezembro mas depende da convalescença do segundo participante. Esta é a ação que envolve uma pessoa sem experiência prévia com performance.

Perfil do participante: homem, engenheiro e professor, 55 anos.

A idéia surgiu de interação entre os participantes. No início de novembro, após uma seqüência de tentativas malogradas de contato e dificuldades nas agendas, conseguimos finalmente marcar um café e nos conhecermos pessoalmente para construir o que poderia ser feito.

Da experiência adquirida em minha longa e consolidada vida como performer - duas ações até agora, realizadas nessa disciplina - procurei conduzir a conversa para entender quais eram as expectativas do meu parceiro nesse projeto, quais as suas áreas de interesse, quais pontos poderiam convergir entre o que ele expunha e o que me atrai e motiva. Uma das questões colocadas por minha dupla foi o desejo de que o que fizéssemos trabalhasse com o maior número de sentidos possível: não apenas o visual, mas também o táctil, o auditivo, o gustativo e o olfativo. Não demorou muito para identificarmos a gastronomia como interesse comum e imediatamente me lembrei de algumas reportagens que li sobre um restaurante que oferece serviço "à cega", salvo engano, em Londres: o ambiente é totalmente escuro e o cliente não sabe o que vai comer. Ele tem que identificar os sabores apenas pelo paladar. Antes de definir o que será servido ao cliente, ele é consultado sobre eventuais alergias ou restrições a algum ingrediente para que esse, se for o caso, não lhe seja servido. A partir dessa convergência e dessa memória, fizemos um rápido desenho do que seria o roteiro dessa performance que será assim estruturada:

No de participantes: oito (quatro casais sendo que cada um de nós estará com seu parceiro e convidará um outro casal).

Data: a definir em função de agenda (se possível ainda em dezembro, se não em janeiro).

Local: minha casa, em Copacabana.

Premissa: quando os pratos forem servidos os convidados estarão com os olhos vendados e serão incentivados a identificar os ingredientes presentes nas receitas.

Afeto do paladar: no menu, meu parceiro fará o prato principal e eu farei a sobremesa. Já definimos o que queremos fazer e há um diálogo (regional e cultural) entre os ingredientes dos dois pratos. Serão servidos vinhos que harmonizam com os pratos.

Afeto da audição: haverá uma trilha sonora escolhida especialmente para acompanhar o jantar.

Afeto do olfato: estamos escolhendo aromas alinhados com o perfil do prato para ser pulverizado no ambiente

Afeto da visão: inicialmente será realizado pela composição/decoração da mesa e flores. Após o jantar, pelas fotos dos pratos e vídeo dos participantes enquanto apreciavam as receitas de olhos vendados.

Afeto do tato: pelo menos um dos ingredientes, in natura, será oferecido para que os participantes possam toca-lo - também de olhos vendados - e tentar descobrir do que se trata.

Tão logo tenhamos realizado, postarei fotos, vídeo, as respectivas receitas utilizadas bem como depoimentos dos participantes convidados.






Tecnologias - afeta e não produz afeto. 2a. Performance.

Esse segundo trabalho foi feito individualmente pois - infelizmente - eu e a minha dupla potencial não fomos bem sucedidos nas tentativas de conciliar agendas. De ambas as partes tivemos restrições, quando um podia o outro não tinha disponibilidade e vice-versa.

A idéia de tratar da presença e do efeito das tecnologias nas relações - e a não produção de afeto no sentido emotivo e afetivo da palavra - está vinculada aos meus estudos de doutorado no qual as discussões me torno da modernidade e pós-modernidade são centrais e autores como Richard Sennet, Zigmund Bauman, Lyotard e outros recorrente. Uma das reflexões que tenho levantado nessas leituras é o efeito das tecnologias e a forma como a quantidade de aparatos tecnológicos disponíveis invade nossas vidas e termina por nos distanciar das relações humanas diretas, assumindo papel de mediadores das mesmas, mesmo quando estamos fisicamente próximos. Em diversas situações, esses aparatos são barreiras de contato com o outro, mesmo em situação de proximidade: quantos almoços, cafés, conversas, encontros familiares, não são interrompidos e inviabilizados por uma chamada telefônica que deixa um dos interlocutores abandonado à própria sorte e pensamentos enquanto o outro opta / prioriza atender a uma chamada telefônica ou responder aos incontáveis e-mails ou mensagens de texto que seguem entrando em sua caixa e prendem sua atenção durante um encontro?

Para refletir essa situação minha proposta foi realizar um almoço com um amigo e medir quantas vezes o telefone tocaria por ambas as partes, quantas vezes a conversa seria interrompida e por quanto tempo, e avaliar o tempo útil que restou para a inter-locução durante o almoço de uma hora.

A ação foi realizada em Copacabana, no Bistrô Santa Satisfação, em horário de almoço (entre 13h e 14h), de uma quinta-feira.

No período de 1 hora, ambos os telefones tocaram 11 vezes: um deles três vezes e o outro oito. A diferença pode ser explicada pelas posições - e responsabilidades - de trabalho assumidas atualmente pelas partes. Do tempo de 1 hora, 40 minutos foram dedicados a atender telefonemas. Uma das partes ainda respondeu dois emails (o que tomou mais três minutos) e manteve-se atenta a todos os sinais emitidos pelos aparelhos de entrada de novas mensagens. Dessa forma, o tempo de interação restante ficou restrito a 17 minutos. Os assuntos foram discutidos de forma fragmentada e insuficiente. Ambas as partes saíram frustradas da experiência, com o desejo de ter mais tempo para interação, de poder conversar mais e com a sensação de muitos temas por explorar.