A idéia de tratar da presença e do efeito das tecnologias nas relações - e a não produção de afeto no sentido emotivo e afetivo da palavra - está vinculada aos meus estudos de doutorado no qual as discussões me torno da modernidade e pós-modernidade são centrais e autores como Richard Sennet, Zigmund Bauman, Lyotard e outros recorrente. Uma das reflexões que tenho levantado nessas leituras é o efeito das tecnologias e a forma como a quantidade de aparatos tecnológicos disponíveis invade nossas vidas e termina por nos distanciar das relações humanas diretas, assumindo papel de mediadores das mesmas, mesmo quando estamos fisicamente próximos. Em diversas situações, esses aparatos são barreiras de contato com o outro, mesmo em situação de proximidade: quantos almoços, cafés, conversas, encontros familiares, não são interrompidos e inviabilizados por uma chamada telefônica que deixa um dos interlocutores abandonado à própria sorte e pensamentos enquanto o outro opta / prioriza atender a uma chamada telefônica ou responder aos incontáveis e-mails ou mensagens de texto que seguem entrando em sua caixa e prendem sua atenção durante um encontro?
Para refletir essa situação minha proposta foi realizar um almoço com um amigo e medir quantas vezes o telefone tocaria por ambas as partes, quantas vezes a conversa seria interrompida e por quanto tempo, e avaliar o tempo útil que restou para a inter-locução durante o almoço de uma hora.
A ação foi realizada em Copacabana, no Bistrô Santa Satisfação, em horário de almoço (entre 13h e 14h), de uma quinta-feira.
No período de 1 hora, ambos os telefones tocaram 11 vezes: um deles três vezes e o outro oito. A diferença pode ser explicada pelas posições - e responsabilidades - de trabalho assumidas atualmente pelas partes. Do tempo de 1 hora, 40 minutos foram dedicados a atender telefonemas. Uma das partes ainda respondeu dois emails (o que tomou mais três minutos) e manteve-se atenta a todos os sinais emitidos pelos aparelhos de entrada de novas mensagens. Dessa forma, o tempo de interação restante ficou restrito a 17 minutos. Os assuntos foram discutidos de forma fragmentada e insuficiente. Ambas as partes saíram frustradas da experiência, com o desejo de ter mais tempo para interação, de poder conversar mais e com a sensação de muitos temas por explorar.
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